quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ao tio Marcelo DD `.´

Se todo bem fosse bonito e todo belo verdadeiro, os labirintos que encerram nossos caminhos não seriam labirintos...

Tentei ajudar uma borboleta que saía do casulo, mas não deu certo porque um urubu não permitiu. Depois de caminhar um tempo pela neve, a borboleta vermelha me alcançou, e agradeceu minha boa intenção... Mas explicou que aquele estágio de dor, angústia e superação era necessário para ela se consolidar como borboleta, e que eu não poderia comprometer o curso natural das coisas.

Como forma de agradecimento, ela me contou que ao longo daquele caminho, estavam escondidas 3 caixas, uma negra, uma branca e outra vermelha. Adiantou que dentro de cada uma delas haveria um fragmento de um espelho, que unidas formariam a peça original.

Em cada uma das etapas, deveria pagar o peso de cada uma delas em chumbo aos tutores das caixas.

Perguntei de que me serviria aquilo...

Ela explicou que nossa caminhada deve servir para restaurar a nobreza orginal da natureza humana, e que aquele espelho reconstituído passaria a brilhar como ouro depois que encontrasse meu "eu" através de minha verdadeira imagem.

Foi assim... E quanto mais caminho, mais o fardo fica leve, e mais o fogo me aquece... Pois vou cada vez mais precisando de menos vestimentas.




segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um pouco de sinceridade...

Não é que corro demais... É que fico com medo das sombras que me perseguem.

 Não é que não sou capaz de amar... É que não me convém desaprender a estar sozinho.

Não é que fiquei desiludido... É que aprendi que as pessoas podem simplesmente ser como são (ou não).

Não é que nego o tempo... É que o tic-tac do relógio me deixa muito ansioso.

Não é que sou temperamental... É que sempre existe uma maneira correta de acertar ou errar.

Não é que não tenho uma religião... É que não consigo raciocinar muito bem através dela.

Não é que não acredito em nada... É que vivo melhor com as coisas que fazem sentido.

Não é que trabalho muito... É que gosto bastante daquilo que faço (não que isso seja sempre verdade).

Não é que tenho poucos amigos... É que bichos de estimação dão trabalho demais.

Não é que sou orgulhoso... É que pelo menos um pouco de amor-próprio ainda me pertence.

Não é que como ou bebo demais... É que sou de Minas Gerais.

Não é que a ira me entorpece... É que não aguento nem falsidade e nem inadimplência.

Não é que invejo as coisas boas dos outros... É que isso me incentiva a também querer ter coisas boas.

Não é que sou avarento... É que a carga tributária do governo é muito alta.

Não é que sou preguiçoso... É que meu lar é bastante confortável.

Não é questão de luxo... É que o prazer faz bem.

Não é só questão de querer... É que também depende se posso e se devo.

Não é questão de poder... É que às vezes não quero ou não devo.

Não é só questão de dever... É que muitas vezes podendo, apenas não quero.

Simples assim... Por que complicar?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vai, besta

Não pretendia nada, talvez apenas no máximo nadar um pouco...

Caminhava solitário na calmaria da baixa temporada, refletindo profundamente sobre a brevidade da vida e na complexidade da felicidade. Estava ali pela minha autossuficiência de poder caminhar e do poder aquisitivo de poder estar ali, pois muitos não estavam.

Fui para rever um velho amigo, enquanto meu olhar esbarrou com uma velha amiga mais velha ainda... A lua cheia exuberante se impondo timidamente no azul do entardecer...

Segui ensimesmado admirando o céu de brigadeiro, enquanto me arrepiava com a água que beijava o sorvete de creme feito de areia... E nessa tarde tão doce, analisando a vida e reforçando o significado da amizade, enxerguei uma criança absolutamente compenetrada numa tarefa que julguei bastante inviável...

À medida que me aproximava dela, fui desvendando que seu propósito era realmente aquele que havia suposto.

Aquele menino de rosto angelical estava contando grãos de areia... Me aproximei e tentei puxar assunto, mas ele me desdenhou absolutamente. Não contente com a indiferença, disparei uma flecha verbal em sua direção...

" _ Viu, garoto, você nunca vai conseguir contar todos os grãos de areia dessa praia!"

Ao que me fora respondido:

" _ Não preciso contar tudo, só o que está em minha mão. E é mais fácil eu conseguir contar esses grãos de areia do que você entender a brevidade da vida ou o real significado da amizade, porque isso só Deus sabe!"

Nesse instante um cão surgiu sei lá de onde e me olhou profundamente nos olhos, babando de vontade me devorar...

A criança ria de dar gosto enquanto eu me borrava... Até que o menino chamou o cão e saíram fraternalmente correndo pela praia, até eu os perder de vista...

Lembrei de um livro que li há muito tempo, do Paulo Coelho... E decidi onde será minha nova caminhada.

`:´

terça-feira, 14 de junho de 2011

Erax nohn Aquarium

Foi mais rápido que imaginei... Eu lá no alto, dezenas me observando, senti medo... Tentei recuar, mas a vergonha me impediu. O ridículo da covardia de meu medo de altura me impediu de impedir meu salto...
Cascata Veú da Noiva... Deslizei como sombra vultuosa na seda úmida do véu dessa musa, e irrompi solícito após 10 metros de altura nas bolhas de seu bouquet efervecente por entre as rochas da sua encosta.

Senti-me flutuando, quando na verdade afundava... Um silencio caótico e apaziguador... Não sabia em que direção nadar para emergir à superfície... Fui perdendo a sensibilidade, e uma profunda paz tomou conta dos meus sentidos... Larguei-me ao bel-prazer da correnteza... mas como a mão do médico que rompeu a bolsa aminiótica no meu parto, alguém me puxou e supostamente me salvou.

Olhares assustados... A brincadeira deveria acabar por ali...

Recobrei meus sentidos superficiais... Estava vivo, enfim.

Na sala de espera do meu médico antroposófico, um aquário...

Saberiam aqueles peixinhos suas verdadeiras origens? Saberiam distinguir o aquário de um rio? Aquário lindo, adornado por barquinhos de madeira, pedras brilhantes, uma turbina de ar...
Mas e quanto ao alimento que lhes caía do céu... Oferecida por mãos invisíveis, indistinguíveis pela refração do vidro do aquário e sua água meio turva...

Saberiam que são meros enfeites e simples distração para acalmar seus observadores?

E nós? Também não seríamos simples peixinhos imersos sob o véu da realidade servindo de distração para aqueles que chamamos deuses?

E nossas ações e orações... Um mecanismo de recompensa vindo dos céus para alimentar nossas almas conforme tamanho entretenimento lhes ofertamos?

É... Talvez isso seja a famigerada Era de Aquário... Comida demais nos mata, a falta dela também...

Mas vou rezar numa Capella, e pegar uma carona num desses discos voadores qualquer hora dessas...

Quero conhecer o mar... E navegar pelos oceanos dos meus sonhos lúdicos...

'.' VIVIVI .'.




sexta-feira, 3 de junho de 2011

Máscara mortuária

Não foi confeccionada em bronze...
Apenas revelada digitalmente em preto e branco.

O quê?
Uma antiga fotografia minha...
Mostrando alguém que não existe mais,
trajado numa moda obsoleta mista
de alegria e resignação.

Vi ali, naquele momento impresso,
um epitáfio rasgado pela
elegia de um sorriso forçoso e falsificado.

Que máscara, essa?
Por que sorrir na hora do registro se isso não equivale
à minha percepção gotejada pelo tempo cujo
veneno aprofunda essas marcas
de meu rosto cansado e sollitário?

Mas um cadáver digno de máscara mortuária nunca poderia vê-la...

Eis a controvérsia. Eu vi.
Vi a sua também.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sobre não ser vegetariano

Fui pagar alguma conta e um cartaz me chamou a atenção. Tratava-se da foto de um gatinho ensanguentado e abaixo os seguintes dizeres: "HOJE SALVEI UMA VIDA! SEJA VEGETARIANO!".
Confesso que me senti um pouco mal... Seria eu um assassino?
Mas aí pensei "não como carne de gato". E mesmo se comesse, não seria um gato assassinado, apenas um bife.
Estando com a consciência tranquila, sexta-feira após o expediente, fui comigo mesmo curtir uma hora feliz num boteco. Por ironia do destino, eu que não tenho nada de supersticioso, fiquei arrepiado com um gato que cruzou minha reta e proferiu um gutural gemido dos infernos... Mas mesmo assim, adentrei o boteco.
Uma moça me atendeu dizendo "o que vai pedir, gato?"... Por instantes raciocinei se ela estava me elogiando a beleza ou oferendo carne de gato. Arrepiei denovo.
Pedi uma dose de cachaça e uma porção de vaca atolada... Lembrei uma vez lá na roça que fui ajudar desatolar uma vaca boa que caiu no brejo... Aconteceu que de repente cutucaram uma colméia e as abelhas se deliciaram num prato frio de vingança sobre minha carne. Fui parar no hospital.
Mas aí, continuando o "causo", na hora que fui pegar um pedaço da carne, me entusiasmei com uma cena da mulher gato fazendo propaganda de enlatados para felinos domésticos.
A carne, embebida num molho avermelhado típico do prato, respingou gotas dentro da minha dose de cachaça. Fiquei observando que aquelas gotas não se desfizeram no álcool... E por incrível que pareça, elas começaram a orbitar em movimentos elípticos regulares...
Lembrei da curvatura espaço-tempo e do vácuo da singularidade. O efeito horizonte de uma tarde nada vegetariana me permitiu entender como os astros não caem lá de cima...
É porque o vácuo não é vácuo, e sim uma substância com viscosidade.
Entendi ser esse o sinal cósmico pra não deixar de comer uma carninha de vez em quando...

Miau!


Mais um inverno

Nada à frente... Apenas a neblina fria velando vagos faróis turvos e árvores úmidas às vezes vindo.
Meço o tempo pelas luzes e rasgo o asfalto subestimando meus limites. Meu destino está lá, em algum lugar... Tão distante após a curva...
O vidro embaça,
a visão diminui...

Alguém me chama!
Acordo logo sem saber de que lado estou...

Eis a hora de encarar a cidade cinza que nunca dorme,
embora sempre sonhe.

Considero sim a possibilidade da existência do espírito,
embora nenhuma prova evoque convicção suficiente num absoluto cujas regras incendeiem o desejo de tranquilidade em minha consciência.

Mas acelero... Para o destino chegar mais rápido,
embora os caminhos sejam sempre na neblina do meu próprio vazio.