sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Sonho Químico

Para quem admira a estética da automação e vibra feliz com o ladrar dos motores, ir ao autódromo é uma boa opção de entretenimento.

As corridas e os jogos são grandes vitrines sinestésicas, em que os espectadores interagem física e psicologicamente com os uniformes das equipes e seus ícones.

Nesses uniformes, marcas de bebidas e remédios convivem harmoniosamente.

O que não me caiu muito bem foi o pastel com a cerveja da marca patrocinadora.

Fui à farmácia e achei caro o remédio prescrito por mim mesmo. O farmacêutico, que ganha comissão na venda de similares, propôs um outro remédio, que por coincidência era do laboratório patrocinador da equipe vencedora da corrida a que assisti.

Entendo que no conteúdo do frasco não exista nem matéria-prima, nem custo operacional de produção e nem impostos suficientes pra justificar o alto custo.

Mas então pelo que paguei, se não o efeito desejado? Mas e os efeitos colaterais? Não deveriam ser argumentos fortes à redução dos custos?

O efeito do consumo da bebida compensa a potencial dor de cabeça subseqüente?

Quantas pessoas estão vivendo o “sonho químico” em seus comprimidos para dormir e acordar?

Quais os parâmetros de lícito e ilícito?

Meu cunhado, propagandista de uma indústria farmacêutica, é fascinado pelos motores. Liguei para ele durante a corrida do meu celular, cuja operadora tem um plano que só pago o primeiro minuto, e deixei o celular ligado à vontade para passar vontade nele.

Antes, nas telecomunicações, tudo era caro. Hoje eles dão os aparelhos e a telefonia móvel é mais barata que a fixa. Inclusive e equipe da segunda colocação era patrocinada pela mesma operadora do meu celular.

Ficou um zumbido no meu ouvido por dois dias. Só consegui dormir por causa dos remédios, que tenho percebido não mais fazerem o mesmo efeito do início.

Na época das guerras, quando não havia antibióticos, o que restava era amputar. Hoje as amputações estão voltando à moda, porque antibióticos de alto espectro não fazem mais efeito.

Então pelo que estamos pagando, senão a beleza das corridas com seus carros...? Sem contar o ingresso, o estacionamento, a cerveja, o pastel, o remédio...