Foi mais rápido que imaginei... Eu lá no alto, dezenas me observando, senti medo... Tentei recuar, mas a vergonha me impediu. O ridículo da covardia de meu medo de altura me impediu de impedir meu salto...
Cascata Veú da Noiva... Deslizei como sombra vultuosa na seda úmida do véu dessa musa, e irrompi solícito após 10 metros de altura nas bolhas de seu bouquet efervecente por entre as rochas da sua encosta.
Senti-me flutuando, quando na verdade afundava... Um silencio caótico e apaziguador... Não sabia em que direção nadar para emergir à superfície... Fui perdendo a sensibilidade, e uma profunda paz tomou conta dos meus sentidos... Larguei-me ao bel-prazer da correnteza... mas como a mão do médico que rompeu a bolsa aminiótica no meu parto, alguém me puxou e supostamente me salvou.
Olhares assustados... A brincadeira deveria acabar por ali...
Recobrei meus sentidos superficiais... Estava vivo, enfim.
Na sala de espera do meu médico antroposófico, um aquário...
Saberiam aqueles peixinhos suas verdadeiras origens? Saberiam distinguir o aquário de um rio? Aquário lindo, adornado por barquinhos de madeira, pedras brilhantes, uma turbina de ar...
Mas e quanto ao alimento que lhes caía do céu... Oferecida por mãos invisíveis, indistinguíveis pela refração do vidro do aquário e sua água meio turva...
Saberiam que são meros enfeites e simples distração para acalmar seus observadores?
E nós? Também não seríamos simples peixinhos imersos sob o véu da realidade servindo de distração para aqueles que chamamos deuses?
E nossas ações e orações... Um mecanismo de recompensa vindo dos céus para alimentar nossas almas conforme tamanho entretenimento lhes ofertamos?
É... Talvez isso seja a famigerada Era de Aquário... Comida demais nos mata, a falta dela também...
Mas vou rezar numa Capella, e pegar uma carona num desses discos voadores qualquer hora dessas...
Quero conhecer o mar... E navegar pelos oceanos dos meus sonhos lúdicos...
'.' VIVIVI .'.