sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Passarinhos

Pássaros sempre foram o fim do meu sono. Pássaros engaiolados além do muro vizinho, ressonando a perspectiva de liberdade... E quem dera fossem libertos para tão longe quisessem voar, e que o silencio logo voltasse silenciar. Mas talvez fosse apenas o estômago pedindo substância, e o cárcere fosse mais seguro que a liberdade.

Levantamos silenciosos, sob o torpor embrigado de nosso sono. E mais um dia assim viria, sob uma dose de café e um pouco de fé depois da água fria.

A lua não despencou, o Sol reapareceu. Mais um dia então se pronunciava, e tudo prosseguia normal em seu curso natural.

A injeção dos motores se misturava ao trânsito caótico, a paciência resvalava entre a intolerância. Dia normal.


Ser uma boa pessoa ou ser do bem


Uma pessoa boa dá antes que lhe peçam.

Quando vêem isto, algumas pessoas de bem comentam: “quem está precisando, pede”.

Mas uma pessoa boa sabe que existe muita gente do bem que não consegue – simplesmente não consegue - pedir ajuda. Por isso ela de forma pragmática vai e ajuda. Uma pessoa boa precisa antes ter sido do bem.

Ao lado de pessoas boas existem pessoas de bem cujos corações estão frágeis, que começam a viver amores e terrores doentios; estão com fome de afeto, e têm vergonha de demonstrar. A pessoa boa então reúne as pessoas de bem, conta histórias que elas gostariam de ouvir - não as que precisam ouvir e estão cansadas de saber - , divide seu ágape, o alimento da alma, e talvez até embriaga-se junto delas. No dia seguinte, todos sentem-se melhor. Ou não, mas valeu a boa intenção, ou deveria valer.

Aqueles que olham a miséria com indiferença são os mais miseráveis. Os miseráveis nem são bons nem do bem.

Saudade de mim

Não está tão ruim como poderia estar, mas nunca está bom. Vida gasta e suada vivendo de brisas, momentos supérfluos... Desentendimentos entre corpo e mente, estímulos e desacatos ao próprio eu. 
Estive em tantos lugares, conheci e senti tantas pessoas... E apenas me sobrou eu mesmo, remendado e com diversas emendas limitantes do meu agir e do meu pensar. 
Às vezes apelo à Deus, às vezes perco a fé... Pois a esperança vindo desse vazio de onde gritamos por socorro pode ser um terrível mal oxidante e asfixiante, do fundo da caixa de pandora.
Não sei mais o que dói ou onde dói, nem de quantos mais comprimidos necessito para descomprimir minhas angústias. Não há mais diagnósticos. Não há remédios. Há apenas a tristeza, e é dela que extraio a força pra me levantar, e às vezes algum sorriso de deboche dessa vida insana, insossa. Sonhos... Melhor os evitar, não há mais em minha face mais ossos a quebrar. 
Hoje e em vários dias de ontem foi assim... Perdido em meus labirintos... Morrendo, de saudade de mim.