segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


Nascer num  lugar sempre me pareceu fazer um sentido quase inflexível de que se deveria falecer ou pelo menos ser enterrado naquele mesmo lugar. Mas incorporar definitivamente valores coletivos conscientes e/ou inconscientes daquele mesmo lugar aí já seria uma outra variável  bastante questionável.
No lugar onde nasci, aqueles que moravam em lugares altos eram demasiadamente otimistas, meio irresponsáveis, tendiam à obesidade e normalmente possuiam alguém que arcava pela responabilidade dos seus atos.
Os que se desenvolviam em lugares quentes demais, tipo quartinhos de casas pequenas com muitos habitantes e sem ventilação eram explosivos, magros, com muita tendência ao uso de canabis e tinham uma propensão incalculável a ficarem “ricos”.
Conheci também alguns que moravam nos “fundos”. Pouca ventilação, pouquíssima luz, vício em internet, pouca vontade sair de casa e muitos fungos; as poucas e transitórias pessoas frequentando seus habitats eram somente pela “trocas simbióticas” subterfugiadas na necessidade do pagamento da luz…. Corpulentos, indiferentes, luz propriamente dita era verde e a escadaria enorme….
Quando o lugar onde nasci foi de fato se tornando irrevogavelmente mais que pleonasticamente a mim mesmo transitório,  hoje percebo que padecia pertencente aos tipos melancólicos e comecei a  me negar…  Católico praticante namorador de namoradeira católica praticantíssima e filho de pai que abandonou o seminário pelo dom do matrimônio e suas sinistras e sinestésicas deriváveis…   Enquanto eu, definitivamente, um introspectivo pessimista muito magro. O tempo passou e me engordou…
Profissionalmente me tornei um dentista auto-suficiente, com pouquíssimos amigos leais que mal enchem uma mão mas que me permitem analisar bem a vida que levo…
E assim, sempre que estou mal, pelo espelho me olho e digo: que seja assim… Uai! Ou então volta pra tua pra terra como pedinte bonado cheio de diplomas e dedos secos, onde serás enterrado, sem nem ter vivido nem feito, nem chorado, nem se preparado, nem frustrado, nem prosperado, nem treinado. Onde só será um pedaço de papel pendurado, noivado, casado, nada mais que um ego despeçado, dependente de psiquiatra migrado… ou escravo de confessionário confessando pecados alheios acreditando que o tal do deus insiste me testando pela dor enquanto existem povos das mais diversas linguas dos mais diversos cantos do mundo vivendo suas vidas, e que eles sim são a manifestação de Deus como eu sou sob o mesmo Sol, e que ir até esses lugares é só questão de escolha…
Mas a proposta aqui é tentar tornar o conteúdo acessível a tantas vidas que sabem exatamente o que estou dizendo, e que estão de queixo caído… Sabendo exatamente o que estava ecoando na vergonha do espelho na sua frente.  Isso aqui é um texto pra pessoas normais. A verdade não é para impenetráveis, a verdade é para nós mesmos, eu e você.
Um Cara com muita paciência resolveu me ensinar e a sensação é tão boa que não tem como não como não propagar.

Dedicado ao Paulo Tamburini e à família que não intencionalmente atormentei sem deixar dormir por passar a noite inteira digitando na cidade de Juruaia na madrugada do dia 27 pra 28/12/2011