terça-feira, 8 de junho de 2010

Demência

_ Mas o que seriam esses portais?
_ Que mística é essa?
_ Estaria minha alma vendida ao diabo?
Ah... Essas malditas vozes que me enquadram em diagnósticos tão sombrios e macabros...
Mas verdade seja dita, coloquei sim minha alma à venda, mas não houve quem pagasse o preço.
Fui renegado pelo bem e pelo mal, e meu próprio reflexo tornou-se meu algoz.
Quanto aos portais, entendam-se, das suas aberturas, os possíveis níveis de entendimento e reconhecimento daquilo que se encontra no interior daquilo que fora aberto.
A mística esta na mágica daquilo que funciona sem grandes explicações que se coloquem verdadeiramente ao alcance do fato em si e que age por si.
Quanto ao diabo, diria, pela nossa última conversa, que ele está oferecendo em leilão lotes e lotes de almas à salvação...
Das mansões aos porões do submundo: estão todos lotados. Nem os catedráticos em obras demoníacas tem tido seu espaço reservado. Apenas os exorcistas tiveram aumento no piso da categoria.
A reforma agrária territorial do inferno foi feita na cama, e os anjos decaídos semi-diabólicos estão exaltados com o excesso de servos.
Todos estão condenados e na verdade ninguém quer se comprometer antes de saber para onde de fato vai.
Está faltando gás, está faltando lenha.
O índice de desemprego é altíssimo, mesmo com excedente de mão-de-obra especializada.
A estética da morte maldita parece ser mais atraente, e no final não mais se acredita nem em Deus e nem na salvação porque nenhuma alma pode mais conceber lugar que não seja aquele próprio onde já reside.
O purgatório está pior que a fila do SUS e da Medial Saúde.
O diabo precisa de férias. Não está comprando nada.
Dessa forma, o céu vai ser para sempre o paraíso intocável: não tem ninguém.
Aos acéfalos dementes e ignorantes gerais fica disponível um grande falo onde lhes convier.


Intuição...

Assustei quando percebi que não conseguia mais lembrar dos detalhes dos seus traços... Não mais que apenas vagamente do brilho de seu sorriso marfin e do hálito de aroma adocicado que se difundia em nossa atmosfera particular ...
Mas foi necessário sumir, seguir sozinho e reaprender a conjugar os verbos diante de tudo ter se tornado passado, e diante daquilo que seria o futuro ser então apenas uma sombra de memória neste nostálgico presente.
A atração se tornou repulsiva, e as palavras secas não mais palatáveis aos ouvidos; os olhos se fizeram cegos e a serenidade se escondeu nas microscópicas ondas de impacto das lágrimas ao se esparramarem pelo chão.
Sua sobriedade, adornada dos mais bem vestidos preconceitos, sufocou por demais e fez-me odiar aquilo que mais achei que queria.
Ah, se pudesse esmagar com um murro essa sua cara inocente metida a inteligente... Ainda bem que dela quase não lembro mais.