_ Mas o que seriam esses portais?
_ Que mística é essa?
_ Estaria minha alma vendida ao diabo?
Ah... Essas malditas vozes que me enquadram em diagnósticos tão sombrios e macabros...
Mas verdade seja dita, coloquei sim minha alma à venda, mas não houve quem pagasse o preço.
Fui renegado pelo bem e pelo mal, e meu próprio reflexo tornou-se meu algoz.
Quanto aos portais, entendam-se, das suas aberturas, os possíveis níveis de entendimento e reconhecimento daquilo que se encontra no interior daquilo que fora aberto.
A mística esta na mágica daquilo que funciona sem grandes explicações que se coloquem verdadeiramente ao alcance do fato em si e que age por si.
Quanto ao diabo, diria, pela nossa última conversa, que ele está oferecendo em leilão lotes e lotes de almas à salvação...
Das mansões aos porões do submundo: estão todos lotados. Nem os catedráticos em obras demoníacas tem tido seu espaço reservado. Apenas os exorcistas tiveram aumento no piso da categoria.
A reforma agrária territorial do inferno foi feita na cama, e os anjos decaídos semi-diabólicos estão exaltados com o excesso de servos.
Todos estão condenados e na verdade ninguém quer se comprometer antes de saber para onde de fato vai.
Está faltando gás, está faltando lenha.
O índice de desemprego é altíssimo, mesmo com excedente de mão-de-obra especializada.
A estética da morte maldita parece ser mais atraente, e no final não mais se acredita nem em Deus e nem na salvação porque nenhuma alma pode mais conceber lugar que não seja aquele próprio onde já reside.
O purgatório está pior que a fila do SUS e da Medial Saúde.
O diabo precisa de férias. Não está comprando nada.
Dessa forma, o céu vai ser para sempre o paraíso intocável: não tem ninguém.
Aos acéfalos dementes e ignorantes gerais fica disponível um grande falo onde lhes convier.