Dedim de prosa - Parte 11
Zóio foi interrompido pelo resto do pessoal da pesada que estava chegando...
General Rege e o patrão mijavam de rir do Zóio... Aí chegou uma diabinha linda servindo taças de coquetel de manga com erva cidreira e hortelã... Pasmem: nada de álcool.
Zóio, meio zonzo, tomando seu chá, ou coquetel, ou o quê aquilo fosse, pensava: “às vezes deveríamos lidar melhor com as infinidades ao invés de renormalizá-las”. A infinidade em sua magnitude é um imenso espaço “vazio” preenchido por energia... E as diversas frações de realidades dos mundos paralelos nada além de interrupções desse espaço... Como uma música, com suas pausas e vibrações inseridas na infinidade de um grande silêncio. Mas qual seria a música? Qual era a vibração da perturbação do Zóio? Qual a sintonia?
Um peixe só passa a saber que estava na água depois de sair dela... E Zóio não sabia se estava dentro ou fora d'água... Mas é engraçado... Afogar-se basicamente é o mesmo que sufocar-se... Não é?
Mas subtraindo as abstrações (por enquanto), aconteceu então que se aproximava deles o dono da concessão da Rede Record. Enquanto se aproximava, o general comentou discretamente que ele era o avatar do demônio que nem ousavam dizer o nome verdadeiro. Aliás, esse demônio não tem um nome definido. Ele é tão poderoso que a maioria dos feiticeiros prefere não incomodá-lo... Fazer os cristãos falarem mal uns dos outros em fofocas e causar rixas dentro das igrejas e entre os irmãos... Além de procurar enfraquecer a comunhão dos crentes no Senhor Deus, numa técnica surpreendente: evangelizando.
_ Patrão! Disse em tom militar e batendo continência.
_ Não descansar! Péssimo ter de revê-lo.
_ Péssimo ter de revê-lo também, Sr.!
_ E como andam as coisas... Só usando meu nome em vão, seu capeta desgraçado?
_ Sim, Sr.!
_ Você não ter vergonha de colocar toda a culpa no Diabo?
_ Não, Sr.!
_ E esse terno ridículo?! Hoje é dia de festa!
_ A festa está na alegria de louvar ao Senhor, Sr.!
O patrão caiu na risada. Aquele era o recordista em almas. Através de uma rede aberta de televisão, desenvolveu uma técnica bem simples: começar diariamente com uma pregação pra lavar a mente e carregar a alma de bastante culpa. Depois noticiários com todo tipo de desgraça possível, alimentando o instinto animal de ser humano ao mesmo tempo que vende a salvação ao pouco de humanidade que ainda resta. Entretanto, o deus dele é um famigerado doente, sedento por sangue, condenando à danação os pobrezinhos que não se convertem ao dízimo. Simplificando... O cara é ruim mesmo. Nem o patrão gostava dele. Estava ganhando tanto dinheiro que vinha patrocinando a ultima novidade em audiovisual: uma TV de plasma que, além de plana, pingava sangue e espirrava água benta da terra santa.
Criou filiais com outras bandeiras televisivas, colocando sempre uma fé contra outra.
_ Conhece esse pastor de almas, Zóio? - Disse o patrão.
_ Não... Tenho evitado assistir à TV.
_ Claro que me conhece, meu querido irmãozinho Zóio. Já fora batizado em quase todas minhas igrejas. Já até disse que enxergou Jesus no fundo d'água...
_ Eles iam me afogar, porra!
_ Não importa... Mas é claro que me conhece! Por que não conta o resto da história que estava contando... Depois que saiu do trem...
_ Como ele sabe, Raul?
O patrão, ainda Raul, deu de ombros... e acrescentou:
_ Não gosto desse cara, não tem ética nenhuma! Deixa meu Irmão aparecer...
_ Obrigado, Sr..
O cinismo dele era incrível. E continuava na sua postura militar, sem descanso... Um verdadeiro obreiro.
Os 3 .'. olharam para Zóio e pediram que continuasse narrando...
CONTINUA