quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lembranças lúdicas

Nesta noite (ou não sei se foi na outra), algumas lembranças açoitaram meu inconsciente trazendo de presente fotografias borradas em simbólicos sonhos.

Começaram a flutuar, sob meus olhos cerrados, imagens minhas nos primeiros tempos de escola e dos amigos imaginários quando vinham brincar comigo.

Aquela antiga carteira de escola toda riscada de símbolos universais, o caderno de recordações na despedida da quarta série, a vergonha de chamar a professora da quinta de tia, as filas por ordem de tamanho, a hora da sopa... E parecia que a escola era tão grande!

O cheiro da manhã no interior, a segurança de tão jovem poder caminhar sozinho, as brincadeiras e brigas com meus irmãozinhos (que já estão se formando...).

Quando paro pra refletir nem parece que era eu... Embora me lembre claramente das maneiras como reagia ao desconhecido e inusitado, e talvez não tenha mudado muito... Inclusive no fato de que sempre quando me olho pelo espelho ainda não achar que eu sou eu mesmo.

Lembro das mentirinhas contadas mais por força da imaginação que por maldade, das mocinhas correndo com seus vestidos azuis e um aventalzinho escrito o nome... Minha lancheira do Rambo, aquele gostinho do suco tang que ficava na garrafinha... O recreio que separava garotos de garotas... Época épica da minha história. Lembro que na segunda série, o livro didático de português se chamava “As mais Belas Estórias”, sendo que a palavra estória, que tinha significado imaginário, desapareceu, ficando apenas a história.

Creio que de maneira geral, temos boas lembranças daquilo que nos divertiu; mas depois de certo tempo, nossa maturidade também vai nos fazendo sorrir frente ao que um dia nos fez chorar.

Talvez o peso das responsabilidades seja contrabalanceado pelo nosso tempo restante, que por diminuir tão rapidamente vai aliviando a carga e resgatando um equilíbrio aparente.

Percebi que entendimentos filosóficos às vezes são frios, e que quando se trata de felicidade, as coisas fantásticas, fabulosas, imaginárias... contam tudo de maneiras mais reconfortantes. Não se trata de dizer a verdade sempre, mas às vezes o que se deve ouvir.

Esses dias passei por um canal audiovisual que continha um pregador analisando a resposta de transeuntes quanto a pergunta: “omissão é mentira?” Uma me chamou a atenção. Uma certa senhora disse que omissão é mentira sim, e portanto um comportamento desonroso. Mas tem gente que mente por vergonha, o que implicitamente contém uma verdade que reconhece mas não quer expor. Outros mentem por autoproteção... E por aí vai.

Sei que relendo atentamente o caderno de recordações da quarta série, e procurando nos famosos sites de relacionamentos aqueles(as) colegas, percebi maior sinceridade na espontaneidade dos erros de português daquela época que nas falsas felicidades empacotadas em imagens e frases de seus perfis atuais.

Mas então retomo a ideia de que o que faz a felicidade é a diversão, e que às vezes não é pecado contar mentirinhas para vivermos melhor; e talvez omitir nossa tristeza seja uma maneira honrada de agradecer a vida e a saúde que possuímos, antes de mais nada. O resto é filosofia.

www.racionalismoespiritual.blogspot.com

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Relógio da Saudade

Tempo Categórico Tempo!
Tempo de tempos idos,
mais ou menos vividos,
cheio de ciclos e fragmentos
carimbados timbrados e contorcidos!

Tempo Aristotélico Tempo
Tempo que se conta por si,
numa fração de espaço
traçado pela luz invasora
da cúpula do Templo
e seu cansaço.

Tempo Histórico Tempo!
Tempo do Sentido Maior dos portais
dos ponteiros!
Luz da idade que invade a
luz da cidade
na lama dos vícios e poeira
das vaidades

Tempo Fenomenológico Tempo
dos corações magoados
e Sonhos roubados
das apresentações
mal apresentadas,
mal interpretadas!

Tempo Empírico Tempo!
Ciência,
Experiência
Sapiência ou demência!
Tempo além do tempo
Tempo que restou...

Tempo Epistemológico Tempo...
Metódico
Abstrato e Concreto
Incerto
às vezes maior ou menor
conforme nossa percepção.

O Tempo é a medida da vida
A referência da história
A força de toda experiência
Seja na derrota ou na vitória.
Enfim: Tempo é a saudade,
do que se foi ou está por vir.

E ainda haverá Tempo além do Tempo

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Aniversário 2011

E a água levou...
As obras do escultor,
as tintas do pintor
as paredes do construtor
E a vida do morador.

O cãozinho se afogou,
o fogo se molhou e
O homem se sufocou pois a terra
o soterrou.
Todo país se calou e chorou.

Nosso céu, teto do Arquiteto,
Desabou sobre almas inquietas,
incertas sobre o amanhã.
Alguns choraram as perdas,
mas os que a vida perderam não choram.
Tantos palmos de terra encobrindo tantas vidas
num pesadelo meteorológico de verão.

Como não revoltar?
O bem é bem,
Mas se o mal também o é...
Como assim?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dedim de prosa

Era uma vez um cara muito estranho... Adorava ficar estimulando a mente das pessoas.

Tinha respostas meio atípicas para certas situações, como por exemplo quando fora chamado para uma despedida de solteiro de um amigo do amigo de um primo terceiro. Respondeu que se houvesse alguma coisa para comemorar na despedida de solteiro a pessoa não estaria casando.

Certa vez como sempre caminhando ensimesmado, via de tudo sem parecer que algo via. Tinha uma doença degenerativa no nervo oftálmico, e só possuía visão periférica.

Certa vez ele viu um corpo negro, alado e flamejante caindo das nuvens... Correu ao encontro do corpo que ninguém mais pareceu ter visto - aliás, quem além de nosso herói esotérico iria ao socorro de uma coisa chifruda alada flamejante caindo do céu? - .

Foi num beco meio nem assim nem assado, sabe? Beco esquizoide. Beco comum, numa travessa de rua qualquer de lugar nenhum, desses que os restaurantes fecham na hora do almoço.

_ Nossa Senhora da Aparecida do Norte, coitado do senhor! Que tombão heim...?! kkk

_ Nossa sra. o cacete, seu feioso sabe quem sou?

_ Olha só quem fala uai... Tá parecendo o Diabão, famoso Samael, Quinto Planetário, ou como cai melhor nesse caso, o Anjo Caído!

_ Tá me sacaneando, seu zuretão zaroio?

_ É bom ser desse jeito. Não pago passagem e sempre tem uma boa moça pra me ajudar atravessar a rua. Bom demais. Mas então... Deixa te ajudar levantar, seu chifrudo.

_ Obrigado... Bondade sua, mas não espere ar condicionado lá embaixo por causa disso, certo?

_ Bem capaz que vou queimar... Mas se você tá vindo lá debaixo, como caiu do céu?

_ Na verdade o centro da terra é oco. Estou sempre sendo aniquilado ali e aqui. Qualquer derrota é coisa do demônio... Mas enfim, estou vindo aqui receber minhas colaborações da causa partidária.

_ É seu safado, não quis esperar terminar o quinto dia da criação... Eu sei o porquê... É que implantando o físico-mental-abstrato antes do tempo, seria mais fácil ludibriar as pessoas, que então entrariam em colapso acerca do real e do imaginário.

_ É.. Pode ser... É meu historiador, por acaso, seu “caôio”?

_ Quem vê cara não vê coração. Meu problema resolvo com óculos escuros... Aliás ouvi dizer que tem umas ervinhas boas lá nas suas terras, sabe? Esse meu problema de olhos vermelhos vidrados e zambetas só se resolve com um colírio homeopático duma tal de Rempa Infernaliums.

_ É sr Caôio, o herói esotérico do Brasil. Estou mesmo precisando de um secretário aqui.

_ Epa, não vem que não tem. Não vendo nem empresto alma minha pra diabo nenhum...

_ Mas aluga, não aluga?

_ Uai... Alugar a gente aluga... Uai... Paga quanto?

_ Pagarei em conhecimentos transcedentais, poder e vida eterna! HaHaHaHa

_ Bem capaz... Essa não cola comigão não, mano. E como que eu como? Sou muito ocupado. Quero saber dessas coisas não.

_ Bem, não é todo dia que se encontra um zaroio simpático da causa partidária nossa... Pago (um) salário mínimo.

_ Um salário mais meio de insalubridade por causa desse teu fedor e passe.

_ Mas você não precisa de passe, seu zaroio.

_ Mas depois eu vendo na estação, uai.

_ De onde você saiu, sr zaroio?

_ Gaspar lopes, Vossa Exa. Flamejante do Quinto dos Infernos, Gaspar Lopes... Como qualquer messias enviado pelo tio Melk.

E assim nosso amigo Zóio c, o Herói Esotérico do Brasil, depois dum dedim de prosa com o coisa ruim, conquistou a confiança do diabo e alugou sua alma como autônomo.

As aventuras de Zóio, o Herói Esotérico do Brasil, continuarão.

Aguarde... HaHaHaHA

Para refletir - Vinícus de Morais