quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sobre não ser vegetariano

Fui pagar alguma conta e um cartaz me chamou a atenção. Tratava-se da foto de um gatinho ensanguentado e abaixo os seguintes dizeres: "HOJE SALVEI UMA VIDA! SEJA VEGETARIANO!".
Confesso que me senti um pouco mal... Seria eu um assassino?
Mas aí pensei "não como carne de gato". E mesmo se comesse, não seria um gato assassinado, apenas um bife.
Estando com a consciência tranquila, sexta-feira após o expediente, fui comigo mesmo curtir uma hora feliz num boteco. Por ironia do destino, eu que não tenho nada de supersticioso, fiquei arrepiado com um gato que cruzou minha reta e proferiu um gutural gemido dos infernos... Mas mesmo assim, adentrei o boteco.
Uma moça me atendeu dizendo "o que vai pedir, gato?"... Por instantes raciocinei se ela estava me elogiando a beleza ou oferendo carne de gato. Arrepiei denovo.
Pedi uma dose de cachaça e uma porção de vaca atolada... Lembrei uma vez lá na roça que fui ajudar desatolar uma vaca boa que caiu no brejo... Aconteceu que de repente cutucaram uma colméia e as abelhas se deliciaram num prato frio de vingança sobre minha carne. Fui parar no hospital.
Mas aí, continuando o "causo", na hora que fui pegar um pedaço da carne, me entusiasmei com uma cena da mulher gato fazendo propaganda de enlatados para felinos domésticos.
A carne, embebida num molho avermelhado típico do prato, respingou gotas dentro da minha dose de cachaça. Fiquei observando que aquelas gotas não se desfizeram no álcool... E por incrível que pareça, elas começaram a orbitar em movimentos elípticos regulares...
Lembrei da curvatura espaço-tempo e do vácuo da singularidade. O efeito horizonte de uma tarde nada vegetariana me permitiu entender como os astros não caem lá de cima...
É porque o vácuo não é vácuo, e sim uma substância com viscosidade.
Entendi ser esse o sinal cósmico pra não deixar de comer uma carninha de vez em quando...

Miau!


Mais um inverno

Nada à frente... Apenas a neblina fria velando vagos faróis turvos e árvores úmidas às vezes vindo.
Meço o tempo pelas luzes e rasgo o asfalto subestimando meus limites. Meu destino está lá, em algum lugar... Tão distante após a curva...
O vidro embaça,
a visão diminui...

Alguém me chama!
Acordo logo sem saber de que lado estou...

Eis a hora de encarar a cidade cinza que nunca dorme,
embora sempre sonhe.

Considero sim a possibilidade da existência do espírito,
embora nenhuma prova evoque convicção suficiente num absoluto cujas regras incendeiem o desejo de tranquilidade em minha consciência.

Mas acelero... Para o destino chegar mais rápido,
embora os caminhos sejam sempre na neblina do meu próprio vazio.