quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Um chopp

Às vezes fosse descaso do acaso, mas se não acreditado o acaso, fosse tão somente semente de um caso raso, como qualquer um, nem raro e nem comum.
Houve então um sujeito que enquanto dependeu enquanto viveu, fingiu que acreditava, de forma que temia mas não descartava, e questionava experimentando, ou experimentava comedidamente questionando.
Prosperou numa fila, que lembrava uma cáfila cruzando o deserto, e persistia se atendo às amarras. Não bastava ser livre pensador, precisava se comportar de forma a pertencer, para assim além do deserto seu destino alcançar... Até que pudesse autossuficiente e liberto se apresentar, ou bem representar.
Por algum motivo levava consigo uma pedra sabão, um maço e um cinzel. Nem de longe seria escultor, pois a pedra já estava esculpida, faltando apenas lapidar. Mas viveria então uma estética reprodutível, ou algo que dissesse exatamente o que nunca deveria se dizer?
Respeitou a fila, alimentou a cáfila, cruzou o deserto (se é que cruzar o deserto é encontrar água e terra fértil para semear).
Nasceu, cresceu, morreu diversas vezes, uma coisa ou outra entendeu e diversas vezes outras importantes as esqueceu.
Mas um sentimento terrível de repente se apresentava na prontidão de um soldado real que o sustentava: o bem nada seria se um contraponto não o qualificasse. Logo, a imperfeição seria bela, a lagarta também, e um gato sorrindo mais ainda.
Percebeu que não tinha uma coisa sem a outra, e mais ainda: que a pedra que tanto lapidava era igualmente bela e resoluta, embora eminentemente bruta. Ela continha o Todo; o Todo era a forma.
Viveu então um longo tempo de plena lucidez. Tudo era ponderável, mensurável, e da mesma forma que havia pontos sólidos de referência pelo sim e pelo não, havia o incognoscível, o inominado.
E depois de tanto viver convicto dos desígnios do tempo, sustentando vaidades disfarçadas de verdades, as marcas do tempo então agiram... O cabelo caía e as rugas vertiam abaixo enquanto os julgamentos do passado também declinavam pelos tempos modernos. Então assim as coisas não passavam, declinavam...
Dessa forma, aquele velho inconvicto, aparelhado pelos apelos da verdade inconvicta, envelheceu. Assumiu que a unica verdade comum a todos era aquela que habitava nossas células e provia nosso coração. Percebeu não só que tudo passa, mas que a maior força que nos une é gravidade. Num ciclo meio tempo desce, e meio tempo sobe.
Procurou culpa para expiar. Não encontrou. Foi então até lá no fundo do baú, porque é o que acontece quando alguém que esqueceu precisa relembrar.
Interessante é que o passado se guarda abaixo ou no alto, ou no porão ou no sótão.
Lembrou a juventude, o deserto, a maturidade e seus novos critérios. Lembrou dos mistérios insolúveis, e lembrou da insubstancialidade que os desqualificou.
Só não lembrou o passado. Confiou que lembraria o necessário, esqueceria do desnecessário e conservaria o que mais lhe valeria.
Pegou então o maço e o cinzel, e com exímia proeza e verdadeira sensatez finalizou sua escultura delicada em pedra sabão. Era si próprio então desvelado pela mão.
O sim e o não, o certo e o errado, a emoção e a razão, o justo e o injusto: era tudo pela mesma mão no malhete.
E finalmente, com um só golpe resoluto, astuto e objetivo, destruiu sua lapidação trabalhada e tantas vezes interrompida por vários anos além dos anos.
Destruiu a lapidação da pedra bruta, inclusive o tempo restrito a s mesmo.
Não deixou fotografias, nem meias verdades. Deixou vasto patrimônio sem valor algum. Não quis mostrar que nasceu, quis ser numa lápide esquecido. Não cresceu, porque maliciosamente não difundiu sua escultura impura.
Suas ultimas palavras escutadas por ninguém foram: aprenda amar uma pessoa só, pelo mesmo motivo que tantos se odeiam.
Você nasce só e morre só, o resto é só patrimônio.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Experiência

Muitas vezes o que chamamos “experiência” nada mais é que a soma de nossas derrotas. Então, olhamos para frente com o medo de quem já cometeu bastantes equívocos na vida – e não temos coragem de dar o próximo passo.
Neste momento é bom lembrar as palavras de Lord Salisbury: “se você acreditar totalmente nos médicos vai achar que tudo faz mal a saúde. Se acreditar totalmente nos teólogos, vai se convencer que tudo é pecado. Se acreditar totalmente nos militares, concluirá que nada é absolutamente seguro. Para evitar isto, escute seu coração”.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Adeus às Ilusões

Ser ético, ser herói

Ser ético, ser herói

Quem viu o filme Casa da Rússia, com Sean Connery e Michele Pfeiffer? Numa certa altura, entusiasmado, o editor inglês que é representado por Sean Connery diz: “Hoje, para alguém ser uma pessoa decente, precisa ser herói”. É uma frase fortíssima, que muda toda a história que vai acontecer depois – e que por isso mesmo eu não vou contar. Mas quer isso dizer que, hoje, para ser ética, uma pessoa tem que ser heróica? Ficou tão difícil a ética, assim?
É o que ouvimos quase todo dia. Os brasileiros dão muita importância à ética. Dividimos o mundo em gente decente e indecente. Quando algo dá errado, por exemplo uma política pública, automaticamente se pensa em roubalheira, não em incompetência.
Mesmo os bandidos falam em ética. Na cadeia, punem sem piedade quem abusou sexualmente de crianças ou de mulheres. É comum até um criminoso falar na sua “ética”, nos seus valores.
Também, quando tratamos um serviço, é freqüente a pessoa contratada explicar por que ela faz tão bem o seu trabalho e, sobretudo, por que não pratica certas desonestidades que seus colegas (jura ela!) fazem.
Acredite, claro, quem quiser. Mas faz parte do nosso discurso social, da nossa fala com o outro, afirmar: eu sou ético, num mundo em que o resto não o é. Eu sou do bem. O mundo está de pernas para o ar, tudo está errado, mas eu não.
Aqui temos então duas grandes idéias fortes da brasilidade. Aprimeira é que as coisas em geral não andam bem. A economia nos aperta, a sociedade está complicada, até a amizade e o amor estão em crise. Percebemos bem essa devastação e ela nos incomoda. Mas a segunda idéia é que eu, pessoalmente, ajo bem. Sou honesto.
Serei herói? Aqui é que estão as coisas. Boa parte do auto-elogio (eu sou o único decente num mundo de bandidos) é mentira. Basta ver como termina o serviço do profissional que gabou sua honestidade: tão ruim quanto o dos outros, ou mesmo pior. Então, parece que o personagem da Casa da Rússia tem razão: a ética virou artigo raro. Ser ético é mostrar-se capaz de heroísmo.
Vale a pena então irmos, deste filme recente, baseado num livro de John Le Carré, para a tragédia grega Antígone, que Sófocles escreveu no século V antes de Cristo. Penso que toda reflexão sobre a ética deve começar por ela.
Antígone é filha de Édipo. Dois de seus irmãos lutam pelo poder, e ambos morrem. O trono fica então com seu tio, Creonte, que manda enterrar um dos sobrinhos com todas as honras – e deixar o corpo do outro aos abutres. Antígone não aceita isso. Participa do enterro solene de um irmão e depois sepulta, com os ritos religiosos, o outro, o proscrito.
O rei fica furioso. Está convencido de que é uma conspiração contra ele. Manda descobrir quem violou suas ordens. Ao saber que é a sobrinha, tenta poupá-la: se ela negar que foi ela, ou se pedir desculpas, enfim, ele lhe dá todas as saídas – sob uma condição só, de que ela negue o seu ato. Antígone se recusa e é executada.
Essa história é exemplar. Ela mostra que há um conflito latente entre a ética e a lei. Um governante dá ordens. Estas podem ser legítimas ou não. Creonte fez o que não devia, moralmente, mas é ele quem manda. A lei está com ele. Neste caso, o que fazer?
Vou passar a um caso relativamente recente. Um tempo atrás, eu estava na França, quando um homem morreu na calçada, em frente de uma farmácia, sem que ninguém o acudisse. O farmacêutico explicou: se tocasse no outro, se tornaria responsável por ele. Só um médico poderia fazê-lo. Descobriu-se, porém, que bastaria um remédio simples para salvar o rapaz da morte. O que fazer?
Assisti então a um amplo debate. Foi sugerida uma mudança na lei, para que as pessoas pudessem acudir a seus próximos sem serem processadas, quando agissem de boa fé. Também se propôs um sistema de atendimento mais rápido das emergências. Mas quem, a meu ver, resolveu a questão foi um jornalista, que disse mais ou menos o seguinte:
- Se precisarmos de uma lei que autorize as pessoas a agirem humanamente, a socorrerem os outros sem pensar nos castigos e riscos que correm, não estará tudo perdido? Porque nunca as leis vão prever todos os casos. Sempre, para alguém agir bem, de maneira ética, em solidariedade com os outros, haverá um terreno incerto, um espaço que pode até ser ilegal.
- Precisamos de uma lei nos permitindo ser decentes?, continuou ele. Ou deveremos estar preparados para correr os riscos, até mesmo de sermos presos, quando um valor mais alto se erguer, o valor do respeito do outro?
É este o heroísmo de que falava o personagem da Casa da Rússia. É este o heroísmo que Antígone praticou. E ele exige que, às vezes, estejamos dispostos a infringir a própria lei, a desobedecer às regras, quando for em nome de um valor superior. Em nosso mundo, este valor mais elevado pode ser, antes de mais nada, a vida de alguém. Aliás, costuma haver polêmica sobre o chamado “furto por necessidade”, quando um esfomeado furta comida para sobreviver: isso não é um crime.
Mas as coisas podem ir mais longe. Maria Rita Kehl elogiou aqui, na semana passada, o líder dos sem-terra João Pedro Stédile. O que vale mais, a lei de propriedade da terra, que perpetua uma exclusão social enorme, ou o direito das pessoas a viver, e acrescento, a viver dignamente? Do ponto de vista ético, é claro que vale mais o direito à vida digna.
Nem sempre foi assim. Um pregador puritano inglês do século 17, Richard Baxter, tem uma frase horrorosa. Na época, enforcava-se quem roubasse um pedaço de pão. Ele justifica isso: a vida dos pobres, explica, não vale grande coisa, ao passo que o atentado àpropriedade destruiria os fundamentos da própria sociedade.
Não há consenso a este respeito. Uns defendem os sem-terra, outros os atacam. Mas o que quero levantar aqui é algo mais forte: é que a ética e a lei não coincidem necessariamente. Muitas vezes, ser decente exige romper com a lei. Foi assim sob o nazismo e sob todas as formas de ditadura. É assim também quando a desigualdade ou a injustiça impera.
Aí, sim, o ser humano precisa ser heróico. Porque violar a lei, mesmo que seja por um valor moral relevante, significa sofrer as penas da lei. Numa sociedade decente, imagino que o juiz não mandará para a cadeia quem infringiu as normas legais devido a valores morais mais altos, como os que citei. Mas não há garantia nenhuma disso. Pode ser que a pessoa seja punida, mesmo.
E é importante insistir nisso. O que queremos nós: cidadãos obedientes à lei, a qualquer lei, ou sujeitos éticos, decentes? O ideal é juntar as duas coisas. Mas, na educação, devemos apostar na autonomia, isto é, na formação de pessoas que sejam capazes de decidir por si próprias. O que significa que, em casos raros e extremos, elas tenham a coragem de enfrentar o consenso social e suportar as conseqüências de seus atos.
Isso, para terminar, pode fazer de qualquer um de nós um pequeno herói. O heroísmo não está só nas personagens da mitologia grega ou nos super-heróis da TV. Ele pode estar presente quando cada um de nós enfrenta uma pequena prepotência, em nome de um valor mais alto – desde, claro, que arque com os resultados de sua ação e que além disso lembre que é falível e pode estar errado. Mas é desses pequenos heroísmos pessoais que depende a dignidade humana.

Renato Janine Ribeiro
Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne. Tem se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a idéia de revolução, a democracia, a república, a cultura política brasileira. Entre suas obras destacam-se "A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil" (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e "A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes" (2003).

A vida de um pensamento

A vida real de um pensamento dura apenas até ele chegar ao limite das palavras: nesse ponto, ele lapidifica-se, morre, portanto, mas continua indestrutível, tal como os animais e as plantas fósseis dos tempos pré-históricos. Essa realidade momentânea da sua vida também pode ser comparada ao cristal, no instante da cristalização.

Schopenhauer

terça-feira, 21 de maio de 2013

Então...


Enquanto viajavam de ônibus, a velhinha polonesa olhava o rapaz sentado ao seu lado. Em um dado momento, perguntou: “Você é polonês?” O rapaz disse que não. Alguns minutos depois, ela tornou a insis­tir: “Você deve ser polonês”. O rapaz respondeu: “sou sueco”. Mais alguns minutos e a velhinha voltou à carga: “Não precisa esconder: você é polonês”. Querendo colocar um fim à conversa, o rapaz concordou: “Está bem: sou polonês”.
Foi então a vez da velhinha balançar a cabeça, com ar triste: “não parece”.
Diz o jesuíta Anthony Mello sobre esta fábula: primeiro tiramos as nossas conclusões, depois forçamos a barra, até que elas se adaptem a nossa realidade.

Sempre é possível fazer alguma coisa


Todo mundo conhece uma velha expressão popular: “se arrependimento matasse…”
Acontece que arrependimento mata, se não procurarmos consertar o mal que fizemos. Ninguém pode se arrepender, e pronto. É preciso fazer alguma coisa, ou o remorso vai corroer nossas vidas. Só o desejo de agir justifica o pensamento sobre uma ação já executada.
Sempre é possível pedir perdão, reparar um mal, recuperar algo que destruímos – mesmo quando a morte já se colocou entre nós e a pessoa a quem causamos mal. Neste caso, oramos pedindo que nos desculpe, e procuramos fazer um bem desinteressado a outro, oferecendo a tarefa em intenção de sua alma.
Sempre é possível fazer alguma coisa.

quarta-feira, 13 de março de 2013


Uma velha lenda judaica nos conta a história de um piedoso rabino, que certa manhã recebeu a visita de um anjo.
“Você age com santidade”, disse o anjo. “O que deseja?”
“Tenho dedicado todos os dias da minha vida à obra de Deus”, respondeu o rabino.  “Gostaria de conhecer o céu, onde espero viver um dia.”
O anjo tocou no ombro do rabino, e começaram a viagem em direção ao céu. No caminho, o piedoso homem imaginava como seria o paraíso: um lugar de eternas delícias, onde justos eram recompensados com o descanso de seu trabalho na terra. Qual foi sua surpresa quando, ao entrar no céu, deparou-se com um imenso número de pessoas diante de livros, estudando.
“O que é isto?”, perguntou ao anjo. “Eu pensava que os justos já tinham aprendido tudo em vida!”
“Já aprenderam”, respondeu o anjo. “Mas só agora estão entendendo”.

terça-feira, 12 de março de 2013

Reflexo


Caim e Abel pararam na beira do imenso lago.  Jamais tinham visto algo semelhante.
“Tem alguém aí dentro”, disse Abel, olhando para a água, sem saber que via seu reflexo.
Caim reparou a mesma coisa, e levantou seu bastão. A imagem fez a mesma coisa. Caim ficou aguardando o golpe; sua imagem também.
Abel contemplava a superfície da água. Sorriu, e a imagem sorriu. Deu uma boa gargalhada, e viu que o outro o imitava.
Quando saíram dali, Caim pensava:
“Como são agressivos os seres que vivem naquele lugar”.
E Abel dizia para si mesmo:
“Quero voltar lá, porque encontrei alguém bonito e com bom humor.”

segunda-feira, 11 de março de 2013

A Pirâmide do Faraó Del Debbio I


Post publicado no S&H em 12/03/2008.
Hoje, o Tio Marcelo se autoproclama Faraó Del Debbio I e decide que vamos construir uma pirâmide aqui no Brasil, com tecnologia de 2008.


Este post será uma homenagem ao amigo Kentaro. Ele sempre traz informações técnicas muito interessantes desmistificando enigmas e ilusões, então hoje serei eu o cético e usarei apenas da matemática e da engenharia, sem nada de ocultismo, para estudar um dos maiores mitos da história.
Vamos deixar claro que eu não estou dizendo uma palavra a respeito de QUEM, COMO, QUANDO ou POR QUE elas foram construídas. Este post vai demonstrar apenas a titulo de curiosidade como se construiriam as piramides com tecnologia de 2008. E quanto tempo demoraria, ok?

Uma das vantagens de se estar ligado a tantas Ordens Iniciáticas é que o tio Marcelo consegue acesso fácil e rápido a praticamente qualquer empresa grande no Brasil e até mesmo em outros países com apenas alguns telefonemas e recebe carta branca para ficar fuçando e perguntando o que quiser lá dentro. Então poderemos pegar alguns orçamentos que normalmente o público não tem acesso. Outra facilidade é o fato de eu ser arquiteto, então estou acostumado com canteiros de obras e sei que tipo de questionamentos são relevantes para uma obra deste porte.
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Em primeiro lugar, vamos às nossas hipóteses. A pirâmide de Gizé possui 230m de lado e 146m de altura quando foi construída. Suas paredes possuem inclinações precisas de 51º 51´14”. Seus blocos de pedra são encaixados milimetricamente, sem espaço para passar um mero pedaço de papel. Possuem câmaras e túneis de acesso que não foram escavados, mas sim deixados vazios durante o processo de construção (ou seja, foram planejados antes da construção) e que são elaborados com precisão absoluta. Sabe-se que as pirâmides foram construídas utilizando-se aproximadamente 80% de pedras decalcário rochoso, de pedreiras distantes cerca de 60-80km do Cairo, e que 20% de sua estrutura foi composta de pedras nobres, em especial oAlabastro e o Mármore Negro, trazidas da pedreira de Assuã, localizadas a cerca de 725km de Gizé, através do Nilo.
Cálculos Iniciais
Usando a fórmula do volume de uma pirâmide, temos (B x H )/3 = 2.556.850 m3 de pedra. Não estou levando em consideração as câmaras e túneis dentro da pirâmide, apenas o volume “bruto” dela para fins de orçamento aproximado. A maior parte do volume da pirâmide é construído com blocos inteiros de Calcário Rochoso. O calcário possui densidade 2,8, portanto, temos que o peso estimado de uma pirâmide é 7.159.150 toneladas, dos quais 1.431.830 toneladas(revestimentos e pedras nobres) vieram de Assuã de barco e 5.727.320 toneladasvieram de pedreiras próximas, localizadas a até 80km de distância. Destes blocos de calcário, cerca de 6% em peso é constituído de blocos de 70 toneladas (aproximadamente 5.000 blocos) e teremos de pensar em uma maneira de extraí-los e transportá-los da pedreira até nossa obra.

quarry01.jpg
A primeira coisa que precisamos verificar são as pedreiras de calcário rochoso. Analisando algumas das maiores pedreiras de calcário do Brasil, consegui as seguintes informações: De acordo com a ABRACAL (Associação Brasileira de Produtores de Calcário), uma pedreira de 6 hectares produz cerca de 14.000 toneladas de blocos no tamanho adequado por ano.
Com dois telefonemas para alguns amigos que trabalham no Cairo, consegui a informação que as pedreiras que os “egípcios” utilizaram para obter os blocos (Toura e Maadi) não tinham mais do que 28 hectares somadas (e isso são pedreiras grandes, relativamente falando). Fazendo uma regra de 3 básica, temos uma produção de 65.000 toneladas por ano de blocos.
De posse destes dados, temos que apenas para extrair todas as pedras para montar a Pirâmide, utilizando-se de equipamentos de 2008, levaríamos 82 anos. Uma conta simples que já destrói completamente qualquer hipótese das pirâmides terem sido construídas em 20 anos…

Mas o faraó Del Debbio I tem pressa !!! Queremos construir a pirâmide no mesmo período de tempo alegado pelas lendas. Se um bando de egípcios seminús de 4.000 AC conseguiu, nós vamos conseguir também!
Procurando minas de calcário
Em 2000, a produção total de calcário no estado de São Paulo foi de 3.230.000 toneladas, dos quais apenas 16% nos tamanhos adequados para a construção dos blocos de 2,5 ton mínimos (pouco mais de 516.800 toneladas por ano). Vamos usar TODA a produção de calcário do estado de São Paulo para a construção da minha tumba.

Com TODA a produção de blocos de calcário do estado de São Paulo (que corresponde a cerca de 21% da produção total do Brasil) nas mãos do Faraó Del Debbio I, vamos recalcular o tempo para a construção da Pirâmide:
Com 1.416 toneladas de blocos por dia de produção, precisaremos de 11 anos(4.045 dias) para extrair tudo. Dane-se o estado de São Paulo, o Faraó Del Debbio tem pressa. Temos apenas 20 anos para construir as pirâmides!

caminhao30ton.jpg
Para nossas operações terrestres, usaremos o caminhão 31260E da Volkswagen, o maior e mais poderoso caminhão da linha comercial 2008, que é um dos mais modernos da frota brasileira, capaz de carregar até 31 toneladas por vez. Utilizando-se de guindastes mecanizados do tipo GR 9.000 da Rodomaq, conseguimos colocar um bloco de pedra de 2,5 toneladas dentro do caminhão e ajustá-lo em cerca de 10 minutos, de acordo com o engenheiro responsável.
Um caminhão 31260E carrega até 12 blocos de 2,5 toneladas de cada vez, o que demoraria 120 min para carregá-lo. Supondo uma estrada bem asfaltada, em uma velocidade segura, faríamos o trecho de 80 km em 1h30. Descarregando o caminhão no local da obra e retornando em segurança, todo o processo de ida e volta demoraria 7 horas.
Ao todo, teríamos de carregar 5.383.681 toneladas de pedras em blocos de até 12 toneladas usando nossos caminhões Volkswagen.
Fazendo a divisão de 5.383.681 toneladas por 30 toneladas, temos 179.456 viagens. Levando em conta nossa produção de 1.416 ton por dia, demoraríamos 3.802 dias para fazer todas as viagens (ou 10,5 anos). Para tanto, utilizaríamos uma frota de 30 caminhões (que trabalhariam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem feriados ou pausas). Não há razão para usarmos mais caminhões, pois estes já estariam trabalhando no limite, já considerados 20% extras para eventuais falhas mecânicas (obrigado pessoal da Brasspress e RodoJumbo pelas informações).
Alguns engenheiros alegaram que estes caminhões trabalhando desta maneira selvagem não durariam 10 anos, então um deles pediu para que ficasse constando que a frota ideal total seria de cerca de 50-60 caminhões, sendo substituída ao longo do tempo.

Os outros 343.640 toneladas em blocos de 70 toneladas seriam um problema. A Granero e outras companhias de transporte que pesquisei carregam até no máximo 60 toneladas indivisíveis em seus veículos e os maiores caminhões da Volvo e Scania carregam apenas 50 toneladas… então teríamos de ir buscar outros caminhões especiais para isso.
Encontramos esta carreta, capaz de carregar até 470 toneladas, mas não achei o nome dela. Para sustentar essa estrutura, a carreta tem 266 pneus, além de outros 30 dos cavalos mecânicos. O veículo tem 93 metros de extensão, 8,70 metros de altura e anda a 5 km/h. Precisamos de uma autorização especial AET e cada viagem pode chegar a custar até R$ 100.000,00
Para carregá-la com os blocos de 70 toneladas (cabem 6 blocos por vez), demoramos cerca de 2h por bloco, ou seja, 12 horas para carregá-la, 16 horas para viajar (totalizando 56 horas por trajeto ida e volta) levando 420 toneladas. Para transportar 343.639 toneladas, precisaremos de 818 viagens, ou seja, 45.808 horas (5,2 anos).
Sabemos que as pedras maiores estão na base da pirâmide, então pelo menos os 5 primeiros anos serão destinados para as pedras de 70 toneladas, então talvez consigamos fazer um “estoque” de pedras de 12 toneladas e 2,5 toneladas para usar no futuro, aumentando assim nossa frota de caminhões 31260E nos primeiros anos e economizando pelo menos uns 3 anos do projeto. Por outro lado, não adianta carregarmos as pedras menores para a pirâmide pois isto atrapalharia o desembarque das supercarretas.
O preço dos materiais, pelas tabelas de 2007, são de aproximadamente 100,00 por tonelada de blocos de calcário e entre 250,00 a 400,00 a tonelada de mármore nobre e alabastro. Mas acho que por ser irmão maçom, eu teria direito a algum desconto. O total estimado, em material apenas, sairia na faixa de 4 bilhões de reais (1% do PIB do Brasil de 2007). Mas isto não inclui nem transporte e nem mão de obra!
Outro dos problemas é como fazer a terraplanagem do terreno. Consultei algumas das empresas de topografia de irmãos e descobri que conseguir um platô que fique PERFEITAMENTE NIVELADO sobre a areia de um deserto é uma tarefa impossível. Pior ainda se planejamos “empurrar” os blocos… o mero deslocamento das pedras já desnivelaria TODO o trabalho executado, e a areia deslocada nunca permitiria um encaixe tão perfeito dos blocos. Ao contrário do que as otoridades querem que vocês acreditem, não basta ir empilhando blocos de pedra sobre a areia, pois com o tempo, a areia cede e toda a estrutura afunda (por exemplo, a torre de Pisa, que nem em areia foi construída). Para se construir em cidades como Santos ou Las Vegas, é necessário consultar engenheiros navais e de estruturas, para indicar as compensações necessárias a serem feitas para se edificar sobre solo tão precário (e estou falando de prédios de 10, 12 andares… a pirâmide tem o equivalente a 49 andares). Em outras palavras, é necessário uma FUNDAÇÂO para manter toda esta estrutura firme (ainda mais que ela não se deslocou um milímetro em 12.500 anos… ops… 6.000 anos).
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Muitos teóricos da conspiração (e eu não estou entre eles) afirmam que há uma pirâmide enterrada abaixo da pirâmide, de mesmo tamanho e voltada para baixo, formando um octaedro, para servir como fundação. Isso resolveria nosso problema, mas destruiria de uma vez por todas as teorias de tumba do Faraó e escravos egípcios empurrando blocos… pena que o governo egípcio proíbe qualquer tipo de pesquisa neste sentido, então nunca saberemos a verdade.
De qualquer maneira, os trabalhos de terraplanagem de uma área deste tamanho teriam de ser executados por alguma empresa do porte da Engepar especializada em barragens. O tempo estimado para deixar o terreno preparado para receber a pirâmide girou em torno de 6 meses a 1,5 anos, mas não tive garantias de inclinação de zero graus como na pirâmide. Eu deveria esperar algo em torno de 0,5º a 1,5º de inclinação.
Transporte por rios
Para nossas operações marítimas, vamos usar um dos maiores navios em operações aqui no Brasil, da Hamburg-Süd, chamado “Aliança Brasil PPSO”, com capacidade máxima de 1850 Teus (Teu é uma unidade de medida que representa containers com 20 pés, neste caso, carregados com 14 toneladas), que é um navio com 200m de comprimento, possui mais de 28.000 toneladas de deslocamento e velocidade de 20 nós. Este navio é tão grande que existem apenas 5 em operação neste volume no Porto de Santos (para ter uma idéia de comparação, as caravelas de Cabral carregavam 250 toneladas cada)

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As docas do porto de Santos, o maior porto do Brasil, são capazes de carregar em média, 40 containers por hora (ao custo de 70 dolares por container). Um navio do porte do Aliança Brasil demoraria, então, 46 horas para carregar e 20 horas para viajar (em um total de 132 horas entre carregar, viajar, descarregar e voltar). Isso, claro, contando que tivessemos dois portos do tamanho de Santos à nossa disposição.
Carregar 1.431.830 toneladas usando este navio demoraria 55 viagens, ou aproximadamente 310 dias. Menos de um ano. Esta seria a parte mais fácil do projeto.
Faltou um último detalhe. Os blocos das pedreiras são escavados com erro de até 3% em tamanho. Os blocos das pirâmides são PERFEITOS em suas medidas. Eu reclamei com o engenheiro chefe e ele me disse que é possível contratar especialistas para recortar no canteiro da obra com precisão milimétrica, mas este trabalho poderia demorar até cerca de 3 a 12 horas por bloco, para ficar da maneira 100% perfeita que as pirâmides exigem.
Contas rápidas levam ao nosso conhecimento que, para lapidar os cerca de 260.000 blocos das paredes externas, câmaras e túneis, seriam necessários aproximadamente 2.600.000 horas. Com uma equipe de 500 especialistas (ou seja, praticamente todos os especialistas brasileiros), conseguiríamos fazer todo este trabalho em cerca de um ano inteiro. Certamente o faraó Queops tinha especialistas muito melhores que os formados pelo SENAC.

Resolvida a logística de escavações e transporte, vamos colocar os blocos uns sobre os outros:
Precisamos levar todos estes blocos de 70 toneladas, 12 toneladas e 2,5 toneladas até a sua posição na Pirâmide. Sabemos que ela possuía 146m de altura. A hipótese de rampas é ridícula, pois não podemos construir rampas com inclinação maior do que 10%, o que significa que as rampas quando estivéssemos no topo da pirâmide teriam 1,5 quilômetros de comprimento… Uma rampa destas teria 5m x 145m x 1.450m, ou seja, 525.625 metros cúbicos de areia, suficiente para encher 6 maracanãs até a boca de areia. Algum de vocês já foi a um estádio de futebol para ter uma noção de quanta areia é isso?
A maior escavadeira do mundo, a Bagger 288, consegue movimentar 76.445 m3 por dia. Este monstro demoraria uma SEMANA para construir uma rampa como a descrita acima. Supondo, claro, que milagrosamente toda a terra movimentada chegasse ao formato desejado da rampa em um passe de mágica.
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Vamos usar guindastes e gruas!
Podemos construir rampas de acesso metálicas para caminhões nos primeiros estágios da pirâmide. Mas com o tempo, eles se tornariam complicados. No primeiro andar, teríamos algo em torno de 53.000 m2 (230×230) para manobrar os caminhões e guindastes GR 9.000, mas certamente precisaríamos usar guindastes para posicionar os blocos da base.
Para posicionar os blocos gigantes de 70 toneladas, usaremos guindastes daDemac ou Lorain (aluguel de 250,00 por hora). Posicionar um bloco de 70 toneladas em um canteiro de obras demora cerca de 2 horas, mas o engenheiro me disse que há erro de até 5% da maneira que escolhi. Podemos medir com sensores de laser (semelhante ao que usam no metrô para alinhar os túneis) mas que mesmo assim o balanço dos guindastes poderia tirar os blocos do prumo. Sugerimos empurrar com um trator, mas a maioria dos tratores empurra até 30 ou 40 toneladas no máximo. Sugeri usarmos nossos peões de obra para empurrar. “Se o faraó conseguiu, eu também consigo” – pensei. E o engenheiro riu na minha cara. Totalmente impraticável.
Pessoas empurrando blocos de pedra na areia fariam no máximo com que elas mesmas afundassem quando começassem a puxar ou empurrar os blocos, sem que ele se movimente. Se usarem troncos para “rolar” as pedras, precisariam pensar em uma maneira de RETIRAR estes troncos debaixo das pedras (embora nenhum botânico que eu contatei conseguisse me indicar uma palmeira que agüentasse 70 toneladas de pressão).

Só para não parecer que eu estou exagerando… 70 toneladas é o peso de 70 fuscas, compactados em um bloco de aproximadamente 2 x 2,5 x 5 m. Se imaginarmos escravos MUITO fortes e marombados, capazes de puxar 200kg cada um, precisaríamos de 350 escravos para puxar cada um destes 5.000 blocos. E estamos falando de PUXAR, porque empurrar é impossível… vamos empilhar 350 homens uns sobre os outros… a última vez que eu verifiquei, dois corpos não ocupavam o mesmo lugar no Plano Material. Então como ajustar a posição milimétrica dos blocos sem empurrá-los?
O segundo problema de empurrar é que isso poderia arrebentar o piso e a terraplanagem. Decidi não me preocupar com estes problemas mundanos e ignorar isto. Concretando o primeiro andar da pirâmide, teríamos uma base forte (desde que ela não cedesse) para continuar subindo.
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Resolvido as primeiras etapas da pirâmide, usaremos, então, o modelo de guindasteMC310K12, um dos maiores guindastes em uso aqui no Brasil, para elevar os blocos de 12 e 2,5 toneladas. Ele eleva 12 ton a uma altura de 57,50m, com uma lança de 70m. Com ele, conseguiremos construir até cerca de 50m de altura… só faltam 100m para chegar ao topo.
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Neste ponto do percurso, temos um problema, chamado Câmara dos Reis. Há dentro dela uma pedra única de 50 toneladas, de mármore negro vindo de Assuã. Como nenhum guindaste chegaria até a posição onde ela está e as rampas de areia são impraticáveis, optamos por usar um helicóptero militar, mas infelizmente, o maior helicóptero brasileiro, o Baikal, carrega miseráveis 4 toneladas. Mesmo o Mi-26, o maior helicóptero de carga americano, segundo a WFF, carrega apenas 20 toneladas (confesso que isso foi uma surpresa, eu achava que helicopteros carregassem mais peso). Então abandonamos os helicópteros… e aquela história das Pipas do Kentaro levando 11 toneladas me parece cada vez mais história para cético dormir…
Sem helicópteros, tivemos de construir uma rampa, usando estruturas metálicas extra-resistentes combinada com um guindaste na ponta para içar a pedra. Tempo estimado de operação: duas semanas.
Espero que dessa vez eu lembre de colocar um sarcófago DO TAMANHO CERTO, já que o de Quéops é menor do que deveria ser… faraó burro!

Também descobri que existe uma grua nova na Espanha chamada Potain MD1400, a maior grua em atividade na Europa, capaz de elevar pesos a até 200m de altura, flecha de 50m e 30 toneladas de carga. Deve dar, embora a flecha desta grua não é suficiente para chegar no centro da pirâmide, o que força nossos homens a montarem esquemas de cordas para direcionar e posicionar as pedras do Topo.
Pyramidion
Fica faltando uma última pedra, uma réplica da pirâmide com 9m de altura esculpida em uma única peça de mármore negro, chamada Pyramidion, pesando entre 6 e 7 toneladas. Com a grua espanhola, podemos fazer este trabalho sem grandes complicações de engenharia.

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Claro que os prazos que eu forneci nesta coluna são para cada uma das etapas separadamente. Quando construirmos a pirâmide, estas etapas terão de entrar dentro de um cronograma de logística: enquanto as pedras são cortadas e transportadas, outros engenheiros e peões estarão responsáveis pela colocação delas no canteiro de obras. Trabalhando sem parar 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem feriados nem descansos (segundo os textos usados como base, os “egipcios” trabalhavam apenas 3 meses por ano), estimamos a construção da Pirâmide com tecnologia de 2008 em cerca de 13 a 14 anos (tabalhando sem parar 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano), a um custo que pode chegar fácil a 18 bilhões de reais. E, como eu sou uma das dez pessoas mais modestas do Planeta (e a modéstia me impede de dizer em qual posição eu estou), terei todo este trabalho e NÃO VOU COLOCAR O MEU NOME EM LUGAR NENHUM da pirâmide.
Faltou lembrar que todo este trabalho é para apenas UMA pirâmide, quando na verdade, o conjunto possui TRÊS pirâmides (então teríamos de multiplicar todo este trabalho por três… ). Eu sempre soube que a história de escravos empurrando pedras era ridícula, mas agradeço ao Mori pelo texto dele das pipas, que me fez ir atrás de empresas de engenharia para ver o quanto, na verdade, é IMPRATICAVEL a teoria dos escravos da tumba do faraó. As pessoas acreditam nela simplesmente porque as otoridades disseram e porque nunca ninguém foi atrás de ver as dimensões envolvidas. De qualquer maneira, fica demonstrado a impossibilidade de cumprir estas metas no prazo e condições descritas pelas otoridades.
Agora… quem construiu as pirâmides e como, ninguém sabe ao certo… mas definitivamente não foram escravos seminús arrastando blocos de pedras rampa acima no deserto ou empinando pipas.

Dominação


Cada um de nós tem seu caminho. Mas esquecemos disto – e procuramos moldar a vida do próximo de acordo com nossos padrões. Roberto Shiniashiki lembrou outro dia na TV uma bem humorada história a respeito.
Uma mãe tinha quinze filhos, e estava descontente com o comportamento de todos. Perguntava a outras mães, e não encontrava nenhuma que estivesse satisfeita com a escolha do filho. Quando morreu – e entrou no Paraíso – pensou consigo mesma: “aqui pelo menos vou encontrar alguém que soube educar seu filho: a Virgem Maria”.
No primeiro encontro com Nossa Senhora, cumprimentou-a efusivamente pela carreira do seu filho Jesus.
“Bem, preciso lhe confessar uma coisa”, respondeu Maria. “Na verdade, eu fiz tudo para que ele estudasse Direito”.

quinta-feira, 7 de março de 2013


Buda caminhou pelo mundo inteiro, buscando um caminho espiritual que pudesse seguir. Tentou várias disciplinas, viveu com os ascetas, buscou na filosofia de sua época uma resposta para suas inquietações pessoais. E nada encontrou.
Um dia, sentado debaixo de uma árvore, entendeu o Universo. Mais tarde, procurou ensinar a seus discípulos como tinha chegado a iluminação. Dentre as várias maneiras com que procurou dividir seu conhecimento, destaca-se uma frase:
“Quando respirarem profundamente, saibam que respiram profundamente. Quando respirarem superficialmente, saibam que respiram superficialmente”.
Basta prestar atenção às pequenas coisas – Buda chamava isto de ‘atenção consciente’ – que qualquer homem, por mais adormecido que esteja, é capaz de despertar para a iluminação.
"As circunstâncias se tornaram um beco sem saída
Seu orgulho te traíu e te jogou no chão
E as cicatrizes dessa história mal escrita
Se converteram no aprendizado da reconstrução

Mas todos vivemos dias incríveis
Que não passam de ilusão
Todos vivemos dias difíceis
Mas nada disso é em vão

Todo bem que você faz pra quem te ama
E quem te ama te faz
E isso tudo é o que te faz levar a vida na paz
Só Deus sabe quanto tempo
Que o tempo deve levar

Viver, viver e ser livre
Saber dar valor para as coisas mais simples
Só o amor constrói pontes indestrutíveis 

A arte maior é o jeito de cada um
Vivo pra ser feliz não vivo pra ser comum."

Chorão - CBJ 

Descanse em paz


segunda-feira, 4 de março de 2013


"Às vezes o guerreiro da luz tem a impressão de estar vivendo duas vidas ao mesmo tempo.
Em uma destas vidas, ele é obrigado a fazer tudo que não quer, lutar por ideias nas quais não acredita, gastar seu tempo com coisas que não tocam seu coração.
Mas existe uma outra vida, e ele procura vivê-la através de seus sonhos, de suas leituras, de encontros com gente que pensa como ele, de sua esperança.
Lentamente,  o guerreiro vai permitindo que suas duas vidas se aproximem.
“Há uma ponte que liga o que eu faço com o que eu gostaria de fazer”, pensa o guerreiro.
Aos poucos, os seus sonhos vão tomando conta da sua rotina, até que o guerreiro percebe que está pronto para fazer o que sempre quis.
Então, basta um pouco de ousadia – e as duas vidas se transformam numa só."

Assim que morreu, Juan encontrou-se num belíssimo lugar, rodeado pelo conforto e beleza que sonhava.
Um sujeito vestido de branco aproximou-se: “ você tem direito ao que quiser: qualquer alimento, prazer, diversão”, disse.
Encantado, Juan fez tudo que sonhou fazer durante a vida. Depois de muitos anos de prazeres, procurou o sujeito de branco.
“Já experimentei o que tinha vontade”, disse. “Preciso agora de um trabalho, para me sentir útil”.
“Sinto muito”, disse o sujeito de branco. “Mas esta é a única coisa que não posso conseguir. Aqui não há trabalho”.
“Que terrível”, disse Juan. “Passar a eternidade morrendo de tédio. Preferia mil vezes estar no inferno”.
O homem de branco aproximou-se, e disse em voz baixa: “E onde o senhor pensa que está?”

sexta-feira, 1 de março de 2013


A palavra inferno, que hoje conhecemos, origina-se da palavra latina pré-cristã inferus, que significava "lugares baixos"; foi dela que surgiu o termo infernus. Na Bíblia latina, a palavra é usada para representar o termo hebraico Seol e os termos gregos Hades eGeena, sem distinção. A maioria das traduções ao português seguem o latim, e elas não fazem distinção do original hebraico ou grego.
Geena, do grego, se refere a um lago de fogo. Já o Seol hebraico e o grego Hadesparecem se referir a uma mesma ideia, muito anterior à própria Bíblia: um reino dos mortos (que ficava abaixo da terra, daí a conexão com infernus).
Segundo a mitologia grega, os deuses olímpicos saíram vitoriosos da batalha travada contra os titãs (a titanomaquia), e Zeus, Poseidon e Hades partilharam entre si o universo; Zeus ficou com os céus, Poseidon ficou com os oceanos e Hades ficou com o mundo dos mortos, que leva o nome deste deus (além disso, todos eles partilharam a terra igualmente, daí a ideia de que poderiam influenciar os vivos).
A influência de Hades no reino dos vivos é quase que estritamente negativa e maléfica, vinculada à pragas, doenças, destruições e guerras, mas também é tida como influência de desafios, afinal nas tradições antigas, para seguirem o "caminho do herói", testes e provações físicas e psicológicas eram necessárias… Da mesma forma, o reino de Hades, o reino dos mortos, não é um conceito que poderia ser associado somente ao que o cristianismo passou a compreender por inferno.
No Hades as almas eram julgadas por três juízes [1], com responsabilidades específicas: Minos tinha o voto decisivo; Éaco julgava as almas europeias; e Radamanto julgava as almas asiáticas. Nem mesmo Hades interferia no julgamento deles, a não ser em raras ocasiões. Este tipo de julgamento moral se assemelha a concepção cristã do julgamento do final dos tempos, mas o que ocorre com as almas boas? Elas saem do Hades?
Aí é que está: não saem, pois o próprio Hades é um reino com o seu céu e o seu inferno. O céu é conhecido na mitologia grega como Campos Elíseos; o inferno, como Tártaro. Ambos ficam no reino dos mortos, no Hades. Dessa forma, apesar de a mitologia bíblica haver bebido da fonte da mitologia antiga, há algumas contradições importantes… O exegeta bíblico poderá dizer que o cristianismo é uma espécie de refinamento das ideias pagãs anteriores, mas será que isto se sustenta?
Por “refinamento”, quero dizer “interpretação mais espiritualmente aprofundada”. Porém, ocorre que, apesar de tanto a mitologia bíblica quanto a grega concordarem que os mortos são julgados pelas suas obras, o julgamento do deus bíblico me parece mais autoritário e implacável. Dependendo da interpretação, mesmo um ladrão de galinhas pode ser condenado ao inferno. Outro problema é a gradação de penas: na mitologia bíblica, o ladrão de galinhas e o assassino parecem destinados a receber a mesma pena (arder eternamente num lago de fogo); na mitologia pagã, pelo contrário, as penas são dadas de acordo com as faltas, como ocorre num tribunal de justiça terrena. Eu, sinceramente, não vejorefinamento algum nesta exegese bíblica.
Há, em todo caso, uma primeira questão infernal que se aplica ao inferno bíblico: Os bons, aqueles que chegarão ao céu, não ficariam tristes por saber que boa parte de seus familiares e amigos estarão condenados a arder num lago de fogo por toda a eternidade?
Ora, segundo a mitologia grega, no Hades os julgamentos ocorrem após a morte, e não após um juízo final. Ainda assim, a questão persiste… Mas no caso pagão, há muitas interpretações alternativas que dizem que o condenado ao Tártaro pode eventualmente cumprir sua pena e assim se elevar aos Elíseos; Ainda outras teorias, mais antigas, simplesmente afirmam que após o cumprimento da pena no Tártaro o condenado estaria apto a reencarnar na terra. Enfim, no paganismo não haviam dogmas infalíveis, e os mitos eram constantemente reinterpretados.
Mas no mito bíblico nada disso ocorre. Há um julgamento final, e depois cada grupo irá para o seu canto, por toda a eternidade… Ora, de fato, ainda que o inferno cristão não fosse um local de sofrimento eterno, o simples fato de familiares e amigos serem separados pela eternidade inteira seria um motivo de sofrimento… Eterno?
Como se não bastasse esta, há uma segunda questão infernal ainda mais complexa. Segundo a bíblia, o governante do inferno é um anjo que, por haver se corrompido e escolhido o caminho do mal, tornou-se ele próprio o supremo representante do mal – o anjo caído. Eis a questão: Seria este anjo incapaz de arrepender-se, por toda a eternidade? Um anjo, quando cai, e se corrompe, não tem nenhuma, nenhuma oportunidade de se arrepender, de remediar sua situação? Haveria justiça divina nesta ideia?
Se não houvesse o livre-arbítrio, todos seríamos fantoches nas mãos de Deus. Portanto, é preciso a liberdade para que um ser exista enquanto ser, e não enquanto autômato [2]. Dessa forma, se o anjo caído, Lúcifer, não tiver a liberdade para decidir se arrepender, isto significa que ele é mero fantoche nas mãos do deus bíblico – o que equivale a dizer que tudo o que Lúcifer faz seria, no fundo, decidido pelo Mestre dos Fantoches. Eu não sei quanto a vocês, mas acho esta uma ideia absurda.
O exegeta bíblico poderá responder a tais questões infernais de forma superficial, quem sabe: (a) Ao chegar no céu, Deus apaga da memória dos escolhidos todas as lembranças daqueles que foram para o inferno, e dessa forma não sentirão saudades nem sofrerão pelo que ocorre a eles; e (b) Lúcifer simplesmente não se arrependeu, e talvez jamais se arrependa, por isso ainda existe o mal no mundo. Pois bem, vocês acham, honestamente, que tais respostas vagas resolvem essas questões?
Os pensadores contemporâneos têm concepções bem mais profundas e interessantes do mito do céu e inferno. Sejam cristãos, não cristãos, agnósticos, existencialistas, espiritualistas, estudiosos de mitologia, não importa muito, pois este é um mito que toca a humanidade inteira [3]: Não poderíamos interpretar o céu e o inferno como estados da consciência humana?
Seguindo esta bela reflexão, devemos considerar que cada um constrói o seu próprio céu e inferno em sua própria consciência. Portanto, aquele que encontrou Deus dentro de si [4], mesmo no deserto mais árido e seco, estará ainda num Oceano de Amor em sua própria consciência, dentro da alma, que carrega consigo para todo lugar.
E, assim, chegando neste céu, não titubeará nem por um segundo em descer ao inferno [5] para convidar quem lá está a se aventurar neste vasto Oceano. A questão, no entanto, é que apenas um convite não basta: é preciso mergulhar. Somente o ser em si poderá decidir por abandonar os dogmas antigos, e dar este verdadeiro salto de fé no desconhecido, na imensidão da própria alma… Então, quem sabe, alcance o céu. Então, quem sabe, seja salvo – salvo da ignorância.
Mergulhe suave. Os mensageiros orientam!
***
[1] Os juízes não são deuses e sim mortos que devido à sua forte personalidade e seu senso de justiça tornaram-se juízes. Em algumas versões Hades seria o presidente do tribunal dos mortos.
[2] Fôssemos criados “já perfeitos”, não somente não haveria mérito algum de nossa parte em “sermos perfeitos”, como na prática seríamos autômatos, robôs “programados para a perfeição” por algum deus estranho. Isto é, seja lá o que for esta “perfeição”…
[3] A concepção de alguns ditos cristãos que afirma que somente aqueles que aceitam Nosso Senhor Jesus Cristo serão salvos é tão absurda que nem a incluí neste artigo. Para início de conversa, isto seria condenar todos que viveram antes do Cristo, e todos que jamais ouviram falar do Cristo, automaticamente ao inferno. Isto dá um montão de inocentes condenados!
[4] Ou “o amor”, ou “a iluminação”, ou “a vida”, ou “o Cosmos”, ou “o Verdadeiro Eu”, etc.
[5] Como Sartre já disse: “o inferno são os outros”.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


Os átomos encontram-se eternamente em movimento contínuo, e uns se afastam entre si uma grande distância, outros detêm o seu impulso, quando ao se desviarem se entrelaçam com outros ou se encontram envolvidos por átomos enlaçados ao seu redor. Isto o produz a natureza do vazio, que separa cada um deles dos outros, por não ter capacidade de oferecer resistência. Então a solidez própria dos átomos, por causa do choque, lança-os para trás, até que o entrelaçamento não anule os efeitos do choque. E este processo não tem princípio, pois que são eternos os átomos e o vazio."
Epicuro

"As tentativas de autodestruição – como a culpa, o ciúme, a inveja, etc – devem ser tratadas com rigor.
Um pensamento negativo nos causa muito  mal, mas sem um sinal de alarme, não percebemos o dano.
Sempre que pensarmos algo negativo, devemos cravar a unha do indicador na raiz da unha do polegar, causando uma dor intensa. Nos concentramos nesta dor, até o pensamento passar. Repetiremos isto todas as vezes que estes pensamentos voltarem.
Colocando no plano físico a dor astral, temos a exata noção da crueldade que cometemos conosco mesmos. E passamos a evitar a negatividade."
Paulo Coelho

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


A tradição mágica usa um templo chamado “Templo da Sabedoria” para resumir e simplificar uma série de ensinamentos. A porta deste templo é ladeada por duas colunas: o “Rigor” e a “Misericórdia”.
Saber o tempo de ser duro e o tempo de ter compaixão. O tempo da disciplina interior, e o tempo de relaxar e deixar que o universo comande a vida. O tempo de ser justo, e o de ser generoso.
Um mestre compara as duas atitudes: “às vezes somos a vela, às vezes somos o leme do barco da vida”. Em ambos os casos, a presença de Deus é indispensável: Ele sopra a vela, para que andemos mais rápido; Ele move o leme, para que o barco não se arrebente nos rochedos.
“O medo é o desejo oculto. Inconscientemente, passamos a vida tentando provar que nossos pais estavam certos, porque eles nos deram a coisa mais importante: o amor. Mas deixaram marcas de seus próprios temores; e nós, para não destruir a imagem de pessoas poderosas que foram, terminamos deixando que estes medos sejam transferidos para nós”.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Não se incomode em ser o travesseiro de alguém. Sempre existirá em sua vida uma pessoa que dormirá, ou sonhará, ou terá pesadelo sobre suas emoções e sentimentos. Apenas reflita se o peso da cabeça merece ser suportado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


As palavras mais importantes em todas as línguas são palavras pequenas.
“Sim”, por exemplo. “Amor”. “Deus”. São palavras que saem com facilidade, e preenchem espaços vazios em nosso mundo.
Entretanto, existe uma palavra – também muito pequena – que temos dificuldade em dizer: “não”.
E nos achamos generosos, compreensivos, educados. Porque o “não” tem fama de maldito, egoísta, pouco espiritual.
Cuidado com isto. Há momentos em que – ao dizer “sim” para os outros, você está dizendo “não” para si mesmo.
Todos os grandes homens e mulheres do mundo foram pessoas que, mais do que dizer “sim”, disseram um “NÃO” bem grande  a tudo que não combinava com um ideal de bondade e crescimento.
Jamais diga um “sim” com os lábios, se seu coração diz “não”.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

sonho |ô| 
(latim somnium, -ii

s. m.
1. Conjunto de ideias e de imagens que se apresentam ao espírito durante o sono.

2. [Figurado]  Utopia; imaginação sem fundamento; fantasia; devaneio; ilusão; felicidade; que dura pouco; esperanças vãs; ideias quiméricas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


“A vida é uma metáfora” (Williams)
“A vida é uma espaçonave que veio sem manual de instruções” ( Mannister)
“A vida é trabalho” ( Marx, comunista)
“A vida é trabalho” (Henry Ford, capitalista)
“A vida é um cabaret” (Liza Minelli)
“A vida é uma peça de teatro; o que conta não é o enredo, mas o trabalho do ator” (Seneca)
“A vida é um trombone; se você não sopra, ele é inútil” (W.C. Ande)
“A vida é um violino, que você aprende a tocar em público” (Samuel B.)
“A vida é uma canção cuja letra foi escrita por Deus, cuja melodia é escrita por nós. Podemos fazer uma balada, uma peça clássica, ou um blues bem triste (Eleanor Willer)”
“A vida é uma simples letra de alfabeto; não tem nenhum sentido sozinha. Precisa fazer parte de frases” (Jewish Theological Seminary)