sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Casa do delírio...

Às vezes imagino que há, entre as pessoas, uma linha tênue que funciona como espécie de véu invisível. Ela recobre o mundo meio real meio imaginário que somente que o outro pode enxergar. Abstraio que essa linha funcione porque na verdade ela é como um espelho que capta a imagem do plano de fundo e a reproduz à frente do indivíduo. Nesse jogo de luz, fica então a representação do ser conforme a estética do mundo como tal se lhe apresenta.

Numa reportagem sobre o manicômio judiciário de Franco da Rocha - feita por Douglas Tavolaro - fiquei perplexo com o quanto é cruel a associação entre crime e loucura, e que como comuns caminhamos lado a lado.

Não sei se é divagação demais, mas o que diria Nietzche sobre o fenômeno da internet? Será que se dissesse alguma coisa ele diria dela através dela ou seria por algum livro acadêmico? Seríamos nós os leitores futuros a quem ele destinou seus trabalhos, uma vez que em seu tempo a informação era privilégio?

Gosto de plantas. Será que com a engenharia genética ainda não criam uma hora dessas um jogo em que eu mesmo possa brincar com quites de entretenimento que contenham material genético para produzir androceus e gineceus conforme meu gosto, para enfeitar meu apartamento de 72 metros quadrados, já que não cabem aquelas jaboticabeiras lindas que haviam há muito tempo no sitio do meu avô?

Será que todo crime tem um pouco de loucura ou toda loucura se tornou parte de um crime ou o crime em si?

Será que o que na vida real é um crime na internet o mesmo não o seja?

Será que não precisamos do véu de privacidade para nos protegermos dos loucos que nos rodeiam ou dos loucos que podemos nos tornar?

Ainda bem que as orquídeas já tem beleza suficiente, e que eu não preciso brincar de ser Deus porque nunca faria algo mais belo.

Mas por que não fazer dela um quadro fantástico com jogos especiais de cores usando o photoshop?




sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Sonho Químico

Para quem admira a estética da automação e vibra feliz com o ladrar dos motores, ir ao autódromo é uma boa opção de entretenimento.

As corridas e os jogos são grandes vitrines sinestésicas, em que os espectadores interagem física e psicologicamente com os uniformes das equipes e seus ícones.

Nesses uniformes, marcas de bebidas e remédios convivem harmoniosamente.

O que não me caiu muito bem foi o pastel com a cerveja da marca patrocinadora.

Fui à farmácia e achei caro o remédio prescrito por mim mesmo. O farmacêutico, que ganha comissão na venda de similares, propôs um outro remédio, que por coincidência era do laboratório patrocinador da equipe vencedora da corrida a que assisti.

Entendo que no conteúdo do frasco não exista nem matéria-prima, nem custo operacional de produção e nem impostos suficientes pra justificar o alto custo.

Mas então pelo que paguei, se não o efeito desejado? Mas e os efeitos colaterais? Não deveriam ser argumentos fortes à redução dos custos?

O efeito do consumo da bebida compensa a potencial dor de cabeça subseqüente?

Quantas pessoas estão vivendo o “sonho químico” em seus comprimidos para dormir e acordar?

Quais os parâmetros de lícito e ilícito?

Meu cunhado, propagandista de uma indústria farmacêutica, é fascinado pelos motores. Liguei para ele durante a corrida do meu celular, cuja operadora tem um plano que só pago o primeiro minuto, e deixei o celular ligado à vontade para passar vontade nele.

Antes, nas telecomunicações, tudo era caro. Hoje eles dão os aparelhos e a telefonia móvel é mais barata que a fixa. Inclusive e equipe da segunda colocação era patrocinada pela mesma operadora do meu celular.

Ficou um zumbido no meu ouvido por dois dias. Só consegui dormir por causa dos remédios, que tenho percebido não mais fazerem o mesmo efeito do início.

Na época das guerras, quando não havia antibióticos, o que restava era amputar. Hoje as amputações estão voltando à moda, porque antibióticos de alto espectro não fazem mais efeito.

Então pelo que estamos pagando, senão a beleza das corridas com seus carros...? Sem contar o ingresso, o estacionamento, a cerveja, o pastel, o remédio...


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Etiqueta

" Pequeno rótulo que se aplica a um objeto para indicar-lhe o preço, o conteúdo etc. / Fig. Cerimonial usado nas cortes, nas residências dos chefes de Estado etc. / Formas cerimoniosas usadas entre particulares: observar a etiqueta." - Dicionário Aurélio

Ou então etiqueta pode ser a compactação ou diminutivo da palavra ética. Dessa forma:
  • Pequeno rótulo que presta ciência moral do conteúdo de um objeto contido numa pessoa ou pessoa contida num objeto.
  • Cerimonial que normatiza a moral, "bons costumes", antigamente nas cortes, atualmente na internet.
  • Forma cerimoniosa de moral ou imoralidade entre particulares em situações públicas, porque estão observando as suas etiquetas e sua etiqueta.
Ponto e vírgula. Ponto.

Decepção

A imagem à qual supostamente presto devoção surgiu no google quando digitei a palavra Deus. Achei a imagem bonita e mandei plastificar. Foi criada por Alex Gray.
Meu maior companheiro, especialmente projetado para absorver impactos, é meu celular. Ele me acorda e é meu relógio e calendário.
A vela que acendo diariamente o faço na dúvida. Mas o desafio está em deixá-la bem no centro para queimar homogênea.
Quando oro, pensamentos se cruzam ao perguntar se tem alguém me ouvindo, mas todavia termino a prece, que em si já deve ser obrigatoriamente agradecimento, posto que se há fé suficiente, a graça já fora garantida.
Uso a razão para refutar a razão.
Uso a oração para abafar tanta decepção.
Cansei da gravidade jogando tudo ao chão.

domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre tijolos de demolição

No alto da colina, onde a nascente do rio faz sua primeira curva, existe um castelo de destroços.
Ali há o glamour da razão com toda sua matemática que não permite que aquilo novamente desmorone sobre nossas cabeças.
Ali há também a essência do silêncio de tantas vidas e de tantos sonhos adormecidos nos tijolos desnudos oriundos de diversas áreas cujas arquiteturas ganharam novas configurações e os antigos edifícios permanecem, se muito, apenas em fotografias.
Iracema explicou que ali chegam peças arquitetônicas de todo mundo para serem restauradas, e que a venda de tijolos de demolição é lucrativa, porque eles valem mais... Literalmente.
Nessa mesma época superei a dialética dos mecanismos morais envolvidos na cognição da bondade, pensando formas de aplicá-la a mim mesmo.
Percebi ( dentro do quanto pude lembrar) de quantos castelos desfeitos ainda haviam dentro da minha mente, e que nunca cogitei reutilizar os infinitos tijolos de demolição espalhados por causa da minha própria remodelação.
Quem sabe agora, sabendo que eles valem mais, eu dê maior valor às coisas quando olhar para trás.
É correto.